terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Pai Nosso - Mateus 6.9-15

Introdução
A oração do “Pai Nosso”, com certeza trata-se da oração mais conhecida em todo mundo. Não só cristãos, de todas as confissões, mas também, não-cristãos conhecem esta oração. Embora bem conhecida, no entanto, isto não significa que seu conteúdo e significado sejam igualmente conhecidos de todo o mundo. Tal ignorância tem feito com que muitos utilizem esta oração, de forma equivocada, diferentemente do propósito para o qual ela foi dada.
Nesta oração Jesus está apresentando um modelo para as nossas orações. Neste modelo aprendemos como orar e pelo que devemos orar. Qual o conteúdo e significado desse modelo? Sobre isto agora iremos estudar.
  
I. Um modelo para seguir
A oração do “Pai Nosso” tem a sua importância devido ao fato de ter sido a única oração ensinada pelo Senhor Jesus. Ela só aparece em Mateus 6.9-15, ensinada no contexto do Sermão do Monte (Mt 5—7) e em Lucas 11.1-4, em resposta a um pedido feito pelos discípulos: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11.1).
No Sermão do Monte, esta oração é ensinada no contexto em que Jesus faz várias recomendações a seus discípulos, no intuito de livrá-los da hipocrisia religiosa (lição anterior). Desta forma, depois de ensinar seus discípulos sobre a postura correta na oração, Jesus apresenta um modelo de oração a ser usado.
Certamente tal oração foi dada como um modelo. Jesus a introduz desta forma: “Portanto, vós orareis assim”. Literalmente, segundo o original: “Assim (ou: deste modo), pois, vocês devem orar”. Nela Jesus sumariza todos os elementos e princípios que devem conter as nossas orações. Portanto, temos um padrão para as nossas orações. Cada oração que fazemos deve expressar as mesmas verdades e princípios ensinados por Jesus na oração do “Pai Nosso”. Sendo um modelo, esta oração não deve ser repetida mecanicamente, como sendo uma reza, achando-se que a simples repetição, possa trazer algum benefício. O seu uso demasiadamente frequente pode conduzir ao formalismo, o qual Jesus condenou. Isto não quer dizer que ela não possa ser repetida, seguindo-se exatamente as mesmas palavras. Seu uso é adequado no culto ou em privado, quando o adorador ou suplicante a faz com a mente e coração, compreendendo suas implicações e significados.
O “Pai Nosso”, é divido em três partes: 1) Invocação; 2) Petições (seis ao todo, sendo três referentes a Deus e três referentes às nossas necessidades) e 3) Conclusão.
O “Pai Nosso” harmoniza-se com o ensino do Antigo e Novo Testamentos, de que a glória de Deus é importante acima de todas as demais coisas. Isto fica demonstrado pelo fato de que, as primeiras três petições têm referência ao nome, ao reino e a vontade do Pai. Somente em seguida e por último vêm às petições referentes às necessidades humanas (pão, perdão e vitória sobre o mal), que assumem o segundo plano. A prioridade deve ser dada aos interesses de Deus e somente depois, às nossas próprias necessidades. Jesus ensina um princípio não só para ser observado em nossas orações, mas acima de tudo, um princípio que deve controlar toda a nossa vida. Mais adiante, neste mesmo sermão tal princípio é reafirmado: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas [comida, bebida e vestimenta] vos serão acrescentadas” (Mt. 6.33).

II. De que maneira nos dirigimos a Deus?
“Pai nosso que está nos céus”. Estas palavras inicias são muito significativas. Há vários ensinamentos contidos nesta invocação, e que devem fazer parte de nosso entendimento sobre a oração e servir-nos de guia quando oramos.

A. O Pai ouve somente seus filhos
Primeiramente, está implícito aqui que nem todos têm o privilégio de se dirigir a Deus como Pai e serem ouvidos por ele. Este é um privilégio concedido somente àqueles que estão num relacionamento com Deus Pai, como seus filhos adotivos (Jo 1.12; Rm 8.14-17; Gl 4.6; 2Co 6.18; 1Jo 3.1, 2). Há um sentido em que Deus é designado como “Pai de todos os homens”, quando considerado como Criador e Mantenedor de todos (Sl 36.6; Ml 2.10; At 17.24-28). No entanto, o sentido usual nas Escrituras é que Deus é Pai somente de alguns e não de todos. Nem todos podem se dirigir a Deus chamando-o de Pai, pois nem todos são seus filhos. Aliás, Jesus disse que muitos daqueles que o ouviam eram na verdade filhos do diabo (Jo 8.44). Só é considerado filho de Deus aquele que recebe a Cristo Jesus, ou seja, aquele que crê em seu nome (Jo 1.12-13). Portanto, tal filiação a Deus só é alcançada por meio da obra redentora de Cristo Jesus. É no sentido relativo à salvação que o termo “Pai” é utilizado no Sermão do Monte (Mt 5.9, 16, 44, 45; 6.18). Somente pela mediação de Cristo Jesus, alguém pode ser considerado filho de Deus. Sendo assim, embora nesta oração, Jesus não seja mencionado, seu nome e sua obra expiatória estão claramente implícitos nesta invocação. À parte de Cristo ninguém pode se achegar ao Pai (Jo 14.6).

B. Um Pai Amoroso
Jesus em sua oração-modelo ensina seus discípulos a chamarem Deus de Pai. Ele utiliza a expressão Abba, que significa “papai” ou “paizinho”. Embora os israelitas considerassem Deus como seu Pai (Jo 8.39-44) e no Antigo Testamento o conceito de Deus como Pai de Israel estivesse presente (Dt 7.6-8; 14.2; Is 63, 15, 16; 64.8), no entanto, este não era o modo como eles oravam a Deus. Jesus ensina algo complemente diferente dos padrões existentes na época. O Senhor ensina seus discípulos a se dirigirem a Deus como filhos.  Podemos nos aproximar de Deus chamando-o de Pai, Papai. Como Pai amoroso, bondoso, Deus está pronto a receber seus filhos em sua presença nos céus, para ouvir seus louvores e petições. Deus é um Pai que se coloca ao nosso lado, cuidando de nós e por isso podemos invoca-lo. Por meio de Cristo ele nos fez seus filhos e nos colocou em sua família. Nos dirigimos a Deus em termos pessoais, com a intimidade própria existente entre um pai e seus filhos (Sl 103.13).

C. Um Pai soberano e altíssimo
Este Pai, que está perto de nós, é um Deus soberano, excelso, sublime, altíssimo, que habita nos céus. Jesus combina a imanência e transcendência, condescendência e majestade. “Pai nosso” indica proximidade. “Que estás nos céus”, indica que nossa aproximação dele deve ser feita com humildade e reverência. A intimidade não pode se deteriorar a ponto de nosso relacionamento se tornar vulgar, desrespeitoso. Às vezes, isto ocorre em algumas orações que são proferidas usando-se termos jocosos para com Deus. Tal uso certamente não é autorizado conforme o ensino de Jesus.
Nesta invocação, o suplicante também é lembrado de sua verdadeira condição, ou seja, de que é peregrino na terra, e que seu verdadeiro lar está nos céus, onde habita seu Pai (Jo 14.1-4; 17.14-16). Pertencemos a Deus, somos seus filhos, e somos cidadãos dos céus (Fp 3.17-21). Por vezes, nos esquecemos disso e vivemos como se pertencêssemos a este mundo. Neste caso, nossas prioridades se tornam terrenas, quando deveriam ser celestiais. Por esta razão, Jesus nos ensina, sobre o que pedir demonstrando quais devem ser nossas verdadeiras prioridades.

III. Deus vem primeiro
Os primeiros três pedidos expressam a nossa preocupação com a glória de Deus, em relação ao seu nome, ao seu governo e à sua vontade. Primeiro vem a glória de Deus e depois, nossas necessidades.

A. Glória seja dada a Deus
O que significa “santificado seja o teu nome”? O nome de Deus na Bíblia significa a sua própria pessoa, quem ele é. Ele expressa a sua própria natureza e a sua posição. O nome de Deus é o próprio Deus conforme revelado em todas as suas obras. Seu nome revela quem Deus é em suas virtudes e atributos. No Antigo Testamento Deus se revelou utilizando-se de diversos nomes, conforme cada contexto: “Senhor dos Exércitos” (Sl 46.7, 11); “Senhor Justiça Nossa” (Jr 23.6); “O Senhor Proverá” (Gn 22.13, 14); “O Senhor É Minha Bandeira” (Ex 17.15); “O Senhor Que Sara”(Ex 15.26); “OSenhor É Paz” (Jz 6.24); “O Senhor Está Ali [presente]” (Ez 48.35); “O Senhor Que Vos Santifica” (Ex 31.13).
Deus é santo em si mesmo. Nada que fizermos ou pedirmos poderá acrescentar mais santidade a sua pessoa. No entanto, santificar o nome de Deus significa reverenciá-lo, honrá-lo, glorificá-lo e exaltá-lo. Neste pedido expressamos nosso desejo de que outras pessoas conheçam e honrem a Deus com suas vidas. Isto ocorre, todas as vezes que pecadores se rendem a seus pés e o reconhecem como Deus e Senhor.

B. Que o domínio de Deus se estabeleça sobre todos
Jesus ensina também a orar pela vinda do Reino de Deus. Deus é rei. Seu reino é real neste mundo, no entanto, Jesus acrescentou um novo significado com a sua vinda. O Reino de Deus é o domínio de Cristo nos corações. O Reino de Deus deve ser visto em estreita relação com a salvação e suas bênçãos, manifestadas através da obra de Cristo Jesus. Pertencer ao Reino de Deus significa viver em submissão ao governo divino, sob o senhorio de Cristo. Portanto, quando oramos “Venha o teu Reino”, pedimos que ele cresça à medida que as pessoas se submetam a Jesus através do testemunho da igreja, e que logo esse Reino alcance a sua plenitude e consumação com a vinda de Cristo Jesus em glória para assumir o seu poder e o seu reino.

C. Que seus preceitos sejam obedecidos
Na Bíblia, vontade de Deus, pode ter pelo menos dois significados. Primeiro, o termo “vontade” pode significar “decreto de Deus”. Ou seja, os planos eternos de Deus que são realizados sempre, tanto no céu como na terra. Nada foge ao propósito de Deus preestabelecido e predeterminado (Is 46.10). Segundo, o termo “vontade” (este é o significado na petição)  significa os preceitos de Deus para obediência do homem. Esses preceitos fazem parte da lei moral de Deus, que se encontra revelada nas Escrituras. Os dez mandamentos resumem toda a lei moral de Deus. No céu os anjos são obedientes ao Senhor, cumprindo os seus preceitos de maneira santa e perfeita. Pedimos então, que a vida aqui na terra se aproxime o mais possível da vida no céu. Pedimos que todas as pessoas se submetam a vontade de Deus.
Estes princípios devem modelar não só nossas orações, mas acima de tudo, devem modelar todo o nosso viver. Não só devemos orar para que o nome de Deus seja santificado, seu reino venha e sua vontade seja feita, mas viver de tal forma, que tudo isso se cumpra através de nossa vida (1Co 6.20; 10.31). Tais pedidos chocam-se com os padrões deste mundo, tão egocêntrico e materialista. Fazer tais petições com integridade de coração implica num teste para verificar se nossa profissão de fé é verdadeira.


IV. Humilde dependência de Deus
Os três últimos pedidos bem como a conclusão da oração, expressam a nossa humilde dependência de Deus. Jesus ensina que depois de demonstrarmos preocupação com a glória de Deus, podemos pedir por nossas necessidades. Elas são importantes para o Pai, e por isso, também, devem fazer parte de nossas orações. Notem que os pronomes possessivos passam de “Teu” para “nosso”. Dizemos “nosso” e não “meu”. Portanto, nesta oração aprendemos a ser generosos, incluindo em nossas orações as necessidades de todos os nossos irmãos, pois, juntos constituímos uma só família (Ef 2.11-22; 3.14, 15).

A. O pão cotidiano
 No quarto pedido, “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje”, Jesus nos ensina a moderação. Somos ensinados a pedir pelo pão de cada dia. Nossa dependência de Deus deve ser diária. A palavra “pão” é símbolo de todas as coisas necessárias para a preservação desta vida, como o alimento, as vestes, a saúde, nossa casa, lar, paz, um bom governo. Jesus ensina seus discípulos a buscar das mãos de Deus, tudo quanto é necessário para se viver neste mundo. Os discípulos devem pedir pão e não luxo, contentando-se com o necessário somente (1Tm 6.6-10). No deserto, os israelitas recebiam de Deus a porção do maná para cada dia e nesta mesma dependência devemos viver.
Este pedido, colocado desta maneira, choca-se com os anseios e esforços meramente terrenos. Pressionados por uma cultura materialista, consumista, hedonista, muitas vezes, nossas preocupações e esforços se voltam para o acúmulo de bens e riquezas. Como consequências de tal atitude, somos dominados pela ansiedade (Mt 6.25-33), abandonamos a dependência de Deus (Sl 127) e negligenciamos o verdadeiro tesouro (Mt 6.19-21). A oração do “Pai Nosso”, apresenta-nos um antídoto a esta situação, ensinando-nos a moderação e a dependência de um Pai solícito.

B. Perdoando e sendo perdoado
Depois das necessidades materiais, incluímos as espirituais: “e perdoa-nos as nossas dívidas”. Tão importante quanto o “pão cotidiano”, é o perdão de nossos pecados. Neste pedido reconhecemos que não há em nós qualquer justiça própria, que nos faça sem culpa ou dívida para com Deus. Por meio de Cristo podemos ter o perdão de nossas dívidas. Neste pedido, o perdão de nossos pecados está condicionado a atitude que temos para com os nossos devedores. Conforme os versos 14 e 15, o Pai só perdoará aqueles, que semelhantemente perdoam seus ofensores. Isto significa que, nosso arrependimento sincero é confirmado por nossa atitude de perdoar aqueles que nos ofenderam (Mt 18.23-35).

C. A proteção de Deus
O último pedido é duplo, incluindo uma petição negativa “não nos deixe cair em tentação”, e outra positiva, “mas livra-nos do mal”. Neste pedido reconhecemos nossa fragilidade diante das investidas de nosso inimigo e pedimos a nosso Pai que nos livre daquele. Reconhecemos mais uma vez a nossa dependência do Senhor, de que não somos suficientes sozinhos. Portanto, em nossas tentações ou provações, necessitamos da graça de Deus, para que nos ajude e não permita que o nosso adversário tenha êxito.

D. Confiança e dependência reafirmadas
O “Pai Nosso” termina com uma conclusão, que expressa confiança e dependência. “Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém”. Nesta conclusão, Jesus ensina a seus discípulos que a resposta a todos os pedidos feitos, não se baseia em seus méritos ou esforços, mas em um Deus que é Rei, Soberano, Poderoso e que faz tudo para a sua própria glória.  Nesta conclusão, louvamos a Deus, reconhecendo sua soberania, onipotência e glória.   Com base em tal convicção, o discípulo de Cristo descansa na certeza de que seus pedidos serão ouvidos e respondidos conforme a vontade de Deus, por isso, termina dizendo: Amém!


Conclusão
A oração do “Pai nosso”, trata-se de uma modelo para as nossas orações. Nela encontramos princípios que devem nortear toda a nossa vida. Neste modelo Jesus nos ensina a nos dirigir a um Deus que é soberano, excelso, mas que pode ser chamado de Pai e que ouve as nossas petições. Aprendemos com Jesus que nossas orações devem priorizar antes de mais nada, a glória de Deus. Em primeiro lugar vem o seu nome, seu reino e sua vontade. Em seguida, podemos apresentar os pedidos referentes às nossas necessidades, tanto materiais, como espirituais. Em tais pedidos devemos demonstrar sempre, moderação e humilde confiança em Deus. Pedimos sempre o que é necessário, não o supérfluo ou luxo. Pedimos para nós, como para todos os nossos irmãos. Por fim, Jesus nos ensina que nossas orações devem terminar da forma como começamos, ou seja, na confiança de que Deus como Pai ouvirá nossas orações e que sendo um Rei poderoso e soberano irá respondê-las conforme sua vontade.


A parábola do Bom Pastor – João 10.1-18

A parábola do Bom Pastor é contada apenas por João. Ao que parece, conforme a sequência da passagem anterior, ela foi contada logo em seguida a expulsão do homem curado da cegueira pelos fariseus. Nesta parábola, Jesus se apresenta como o bom pastor em contraste com os falsos pastores, que no contexto se aplica aos fariseus. Estes haviam expulsado o homem que havia sido curado da cegueira (uma verdadeira ovelha), mas, Jesus sendo o bom pastor foi ao seu encontro e o resgatou. As pessoas que ouviram esta palavra eram as mesmas de 9.35-41.
Nesta parábola, Jesus se utiliza de algumas figuras para ilustrar seu ensinamento, sendo que a principal delas é a figura do bom pastor (v. 10, 11, 14), que se aplica a Cristo Jesus. As outras figuras dividem-se em duas listas. Na primeira lista: a porta (o próprio Jesus, v. 6 e 7); o aprisco (Israel, implícito no v. 16); as ovelhas (as pessoas por quem Cristo morreu; os que são destinados à salvação; os que ouvem a voz de Jesus e o seguem – v. 10, 4, 9, 11, 14, 28); rebanho (a congregação total dos salvos, v. 16). Na segunda lista: ladrões, salteadores, estranhos e mercenários (os inimigos de Jesus, os fariseus).
Podemos sumarizar o ensino de Jesus em três pontos principais:

A. O Bom Pastor: o Amigo das Ovelhas.
Todas as qualidades que um pastor de ovelhas possa ter são apresentadas com perfeição em referência a Cristo Jesus. Sejam quais forem as qualidades que possa reunir um pastor terreno, fazem dele apenas um pálido reflexo do grandioso, magnífico e maravilhoso Bom Pastor. Jesus é o nosso Supremo Pastor. Aqueles que exercem o ministério pastoral podem mirar-se no exemplo de Cristos e aprender com ele como cuidar do rebanho, a Igreja. Não só isso, mas as ovelhas, através de tal modelo podem reconhecer aqueles, que mesmo que imperfeitos, são verdadeiros pastores.
Jesus se apresenta como o bom pastor que nesta posição:
1. Entra pela porta e é bem recebido pelo porteiro (10.3);
2. Chama as ovelhas pelo nome (10.3); as conhece intimamente (10.14, 15; cf. 10.27, 28);
3. As leva para fora do aprisco e as conduz aos pastos verdejantes (10.3).
4. Vai adiante delas, para conduzi-las em segurança (10.4).
5. É reconhecido e seguido pelas ovelhas (“elas conhecem a sua voz”) (10.3, 4).
6. Dá acesso a todas as bênçãos (10.7-9); é “a porta”.
7. Dá vida em abundância (10.10; cf. 10.27, 28).
8. Dá a vida pelas ovelhas (10.11, 14).
9. Guia sua ovelhas (cf. 10.4), reúne também outras ovelhas, para que elas formem um só rebanho com um só pastor (10.16).
10. É amado pelo Pai (10.17).

B. Os inimigos das ovelhas: Ladrões e Salteadores, Estranhos e Mercenários
Os inimigos das ovelhas são ladrões e saltadores, pois não são donos das ovelhas, mas tentam subtraí-las de seu verdadeiro dono e aprisco. São estranhos, pois não são conhecidos das ovelhas. São mercenários, pois, tentam apenas obter delas vantagem e lucro, e quando as ovelhas estão em dificuldades as abandonam.
Conforme o contexto, tais inimigos se referem aos fariseus, bem como a todos os líderes religiosos judaicos, e nos dias atuais, a todo e qualquer líder falso. Estes tentavam de todas as formas, ganhar os seguidores de Jesus através de seus ensinamentos falsos, baseados numa interpretação legalista e limitada da lei de Deus. Eram como ladrões, salteadores, que não entravam pela porta, mas pulavam os muros, ou seja, seus ensinos não tinham a Cristo e sua obra como fundamentos.

C. As Ovelhas
Estas têm as seguintes características:
1. Ouvem a voz do pastor, porém não dão atenção à voz de estranhos (10.3-5).
2. Seguem o pastor, porém fogem de estranhos (10.4, 5).
3. Entram pela porta (verdadeira fé em Jesus e sua justiça), são salvas entram e saem e encontram pastagem (10.9). Elas obtêm vida em abundância (10.11).
4. Não pertencem ao mesmo aprisco, porém se tornarão um só rebanho, com um só pastor, Jesus (10.16).

As características acima demonstram uma dependência absoluta das ovelhas do pastor. As ovelhas dependem do pastor, para suprir suas necessidades, para terem direção e proteção. O pastor supre cada uma de suas necessidades e elas põem nele toda a sua confiança. 

Parábola do fariseu e o publicano: o jovem rico e Zaqueu, o publicano – Lucas 18.9-14; Marcos 10.17-31; Lucas 19.1-10

A parábola do fariseu e do publicano é registrada apenas por Lucas. Conforme Lucas esta parábola é contada no contexto em que Jesus tem encontro com o jovem rico (Lc 18.18). Os evangelistas Mateus e Marcos, também registram de forma semelhante a Lucas, sobre este encontro de Jesus. Lucas ainda, logo depois de registrar sobre este encontro, ao organizar seu material e apresenta-lo a seus leitores, relata sobre o encontro que Jesus tem com Zaqueu, o publicano. Ao que parece, Lucas diferente dos outros evangelistas, tem o cuidado de não omitir esses encontros em paralelo com o ensino da parábola. Pode-se perceber uma estreita ligação entre tais encontros e o ensino da parábola.

A. O fariseu e o jovem rico
Jesus propôs essa parábola, para demonstrar que ninguém pode se aproximar de Deus, através de méritos pessoais. A parábola é dirigida àqueles que “confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros” (Lc 18.9). O fariseu da parábola era alguém que confiava em seus méritos pessoais, achando que isso pudesse garantir sua aceitação diante de Deus. Enganava-se, pois, ninguém pode se apresentar diante de Deus confiando senão no favor gracioso de Deus. Por isso, ele voltou para sua casa sem ser justificado, pois aquele que se exalta será humilhado.
O jovem rico, age como um legítimo fariseu. Ele se aproxima de Jesus, com o fim de ser por este exaltado. Pergunta como faria para herdar por si mesmo a vida eterna. Tendo Jesus respondido que ele precisava praticar os mandamentos, logo destaca que praticava todos os mandamentos desde a sua juventude. Em outras palavras, considerava-se merecedor da salvação. Jesus ao demonstrar que tal homem quebrava os mandamentos, por não poder se separar das riquezas que possuía, amando-as mais do que a Deus e ao próximo, demonstrou quão impossível é para alguém receber a vida eterna, com base em seus próprios méritos. Na verdade, ninguém pode merecer a salvação. Somos imperfeitos e falhos. Somos incapazes de merecer o favor de Deus. Por isso, a impossibilidade de alguém entrar no reino de Deus, senão confiando em sua graça (Lc 18.24-30).

B. O publicano e Zaqueu
O publicano a semelhança do fariseu, foi ao templo também com o propósito de orar. O publicano diferente do fariseu reconhece sua condição pecaminosa. Sentindo-se humilhado por seu estado pecaminoso, evita se aproximar do templo, e nem ao menos levantava a cabeça. Cabisbaixo, batia no peito, em autoacusação. Mas, orava: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador” (Lc 18.13). Ele sabia que não possuía méritos pessoais para alcançar o favor de Deus, mas confiava na graça divina, para ser aceito por Deus. Por sua humilde petição e atitude foi justificado, porque todo o que se humilha será exaltado (Lc 18.14).

Zaqueu (publicano) agiu como o publicano da parábola. Diante do Filho de Deus,  reconhece suas culpas, resolvendo indenizar aqueles a quem havia defraudado e doar parte da sua riqueza aos pobres. Zaqueu foi salvo, justificado. Assim como Zaqueu, todo pecador que humildemente se aproxima de Deus, confiando em sua graça, recebe dele a salvação oferecida por meio dos méritos de Cristo.

Parábolas da ovelha, moeda e filho perdido – Lucas 15.1-32; Mateus 18.10-14

A parábola da ovelha perdida é contada por Mateus e Lucas, enquanto que as parábolas da moeda e do filho perdido ou pródigo são contadas apenas por Lucas. O contexto em que Mateus registra a parábola da ovelha perdida é diferente do contexto em que Lucas registra tal parábola e as demais. Nada impede que Jesus tenha contado a mesma parábola em ocasiões diferentes. No entanto, as circunstâncias em que registram tais parábolas são semelhantes.
Em Mateus, Jesus conta a parábola da ovelha perdida para ensinar seus discípulos a dispensarem atenção e cuidado amoroso para com todos os pecadores, que são chamados de pequeninos, sendo comparados a crianças. Jesus diz: “Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos” (Mt 18.10). Em Lucas as parábolas da ovelha, como da moeda perdida e do filho perdido, são contadas depois da atitude intolerante e hipócrita dos fariseus e escribas. Estes criticavam Jesus, por ele falar e comer com publicanos e pecadores. Portanto, em ambos os contextos, Jesus condena o desprezo para com os pecadores, encorajando seus discípulos a amá-los.
As três parábolas apresentam um tema central. Todas ilustram como o Pai Celeste ama pecadores perdidos e vai à procura deles. Assim, como o pastor vai à procura da ovelha perdida, a mulher da moeda e o pai recebe com alegria o filho que se perdera, assim também Deus o Pai, através de Cristo, vai a procura dos perdidos. É para isso que Cristo veio, ou seja, “salvar o que estava perdido”, e assim, não é da vontade do “Pai celeste, que pereça um só destes pequeninos” (Mt 18.11, 14, compare com 1Tm 2.1-6). Jesus não veio salvar pessoas espiritualmente saudáveis e sim pecadores que precisam de salvação. Os fariseus e os líderes religiosos se consideravam saudáveis, no entanto, eram os piores dos pecadores, pois não reconheciam a situação em que se encontravam. Se nas parábolas, quando o que estava perdido é encontrado proporciona alegria para quem o buscava, alegria maior há no céu por causa de um pecador que se converte. Portanto, o que causa prazer e satisfação para Deus é salvar pecadores perdidos. Esta lição aprendida, produz numa igreja local, um olhar favorável para com os pecadores, despertando-a para a tarefa da evangelização. 

A missão dos setenta: um paralelo com a missão da igreja - Lucas 10.1-20

Depois do encontro que Jesus teve com três supostos seguidores, ele designou setenta de seus discípulos para que fossem adiante dele, nas cidades que ele estava para visitar. Lucas é o único dos evangelistas que registra sobre essa missão, mas percebemos uma semelhança entre as instruções dadas aos setenta, com as instruções dadas anteriormente aos doze (9.1-6; Mt 10.5-15; Mc 6.7-13). Uma aplicação possível desta passagem é traçar um paralelo entre a missão dos setenta com a missão que Cristo deu a sua Igreja em todos os tempos.
O número de setenta discípulos pode ser simbólico. Em Gênesis 10 há uma lista de setenta nações originadas dos filhos de Noé. Portanto, setenta pode representar o mundo todo, composto de diversas nações. Jesus enviou setenta discípulos para que fossem a todas as cidades, para onde ele iria depois.
Jesus diz que “a seara” é grande, mas os trabalhadores são poucos, razão pela qual, seus discípulos deveriam rogar ao Senhor da seara para que mandasse mais trabalhadores. Portanto, essa missão seria difícil e trabalhosa, mas deveria ser realizada na dependência de Deus. Para demonstrar mais ainda a dificuldade, Jesus diz que eles estavam sendo enviados como cordeiros para o meio de lobos. Portanto, o ambiente em que a missão seria realizada, era hostil e perigoso.
Os discípulos deveriam ir de cidade em cidade e de casa em casa. Ao serem bem recebidos, deveriam permanecer e anunciar a mensagem do Reino: “A vós outros está próximo o reino de Deus” (v.9).
A missão de anunciar a Cristo de casa em casa, de cidade em cidade e em todo o mundo, permanece como uma missão para a Igreja em todos os tempos. Trata-se de uma tarefa difícil, que conta com escassos trabalhadores e que deve ser realizada sempre com oração (At. 1.8; Mt 28.18-20). Hoje, assim como foi dito por jesus a seus discípulos, nem sempre a mensagem será bem recebida pelos ouvintes. Alguns irão aceitar e outros rejeitar a mensagem do Evangelho da Salvação em Cristo.

A Igreja de Cristo hoje vive em tempos diferentes, no que diz respeito aos recursos tecnológicos. No entanto, deve cuidar para não ser dominada por tais avanços a ponto de comprometer a sua missão. A Igreja corre o risco de ficar dependente dos recursos, deixando de enfatizar sobre o dever que cada crente tem de testemunhar de Cristo, em todos os lugares e em todo tempo. Deve sim fazer uso dos recursos que lhe estão disponíveis, mas, não esquecer que para realizar sua missão, precisa apenas estar comprometida com ela e simplesmente anunciar.