terça-feira, 7 de junho de 2011

A ALEGRIA DE UMA FAMÍLIA CHEIA DA PALAVRA

“Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na
verdade.”
3 João 4

John MacArthur


É claro que a família, como uma instituição, está com um sério problema. Nos anos 60, a sociedade popular abertamente declarou guerra aos ideais históricos do lar e da família. A rebelião foi repentinamente canonizada como uma virtude; o divórcio foi desestigmatizado; e a posição da mãe que fica em casa começou a ser caricaturado como descuidado e servil. Desde então, a sociedade tem rápida e imprudentemente adotado os novos valores, filosofias educacionais e até mesmo regulamentos do governo que são hostis à família. A mídia popular (incluindo filmes, música, rádio, televisão, e até mesmo a mídia de notícias) tem agressivamente tentado normalizar tudo o que é aberrante e celebrar tudo o que é disfuncional na cultura moderna enquanto rebaixa a própria noção de famílias fortes e bem íntimas. A tolerância de nossa sociedade para com o aborto, a homossexualidade, pornografia e outros males apenas têm arruinado mais ainda a base moral da vida familiar.
Naturalmente, as famílias estão se desintegrando rapidamente. Esta é uma séria ameaça a toda a civilização, porque a família nuclear (consistindo de pai, mãe e filhos) é a unidade social mais básica e, portanto, o exato fundamento da própria sociedade. Destrua os laços que unem as famílias e a comunidade de forma geral se desintegrará. E isso está acontecendo diante de nossos olhos.
É claro, muitos líderes de igrejas e leigos cristãos entendem que a desintegração da família é um dos maiores desafios que a igreja enfrenta em nossa geração. Existe uma multidão de ministérios de mídia evangélica, publicadores cristãos, organizações para-eclesiásticas e programas para pais cujo propósito principal é contra-atacar as tendências culturais que ameaçam a família. Alguns esperam resolver o problema por meios políticos e legislativos. Outros pensam que a melhor maneira de influenciar a cultura é através da arte, mídia e educação. E ainda outros parecem crer num cuidadoso treinamento em técnicas de criar filhos e que as mães e pais precisam de mais métodos de disciplina, sistemas para ensinar responsabilidade aos garotos e de programas detalhados de educação dos filhos para ajudar aos pais que não têm a mínima idéia de como resolver os problemas.
Todas estas coisas são boas e úteis na medida apropriada. Mas em seu perceptivo livro, o Dr. John Barnnet relembra-nos que a melhor e mais importante maneira que os cristãos devem buscar para reagir às tendências de uma sociedade hostil à família é fazendo da Palavra de Deus o centro e o foco de sua própria vida familiar. O mais profundo e duradouro impacto que nós podemos fazer na sociedade começa com o fortalecimento de nossas próprias famílias e a única maneira duradoura e efetiva de fazermos isso é dar à Palavra de Deus seu lugar de direito no centro da família.
Afinal de contas, quando Deus esboçou Seu plano para as famílias de Israel, esta era a essência inteira de Seu projeto para a criação de filhos e a vida no lar. A Palavra de Deus era para ser central em cada aspecto da família. Ela foi dada para ser o principal assunto da instrução dos pais e da conversação familiar durante todas as ocasiões de trabalho, viagem e lazer. A Palavra de Deus seria usada até mesmo como uma jóia e seria gravada nos batentes das casas:

Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas. (Deuteronômio 6.6-9).

Edificar uma família centrada na Palavra é, portanto, a exata essência da responsabilidade que Deus mesmo tem dado aos pais, e é um dever que cada pai deve abraçar alegre e avidamente.
O Dr. Barnnet dá uma cuidadosa e completa explanação do que significa ter uma família centrada na Palavra e como os pais podem alcançar este objetivo. Ele sabe do que ele fala. Ele e sua esposa Bonnie têm praticado estes princípios durante vinte anos, formando uma família modelo com oito filhos que agora variam da adolescência a maioridade. Todos eles são fiéis a Cristo e eles conhecem e amam a Sua Palavra.
Como o título do livro sugere, formar uma família centrada na Palavra é uma alegria, não um trabalho penoso. Esta é a maneira que Deus planejou que fosse. “Herança do SENHOR são os filhos... Feliz o homem que enche deles a sua aljava” (Salmos 127.3, 5). “Grandemente se regozijará o pai do justo, e quem gerar a um sábio nele se alegrará” (Provérbios 23.24).
Para os pais que estão confundidos e frustrados pelas aparentemente complexas e freqüentemente frustrantes tarefas relacionadas à liderança de uma família, aqui está um mais do que necessário recurso que lhe ajudará a clarificar e simplificar suas prioridades como um pai. Que ele possa ser usado por Deus para produzir uma geração de pais e muitas gerações de filhos cujas vidas e famílias estão ancoradas na Palavra de Deus, a qual é a única verdade que vive e permanecer para sempre.
(Este artigo trata-se do prefácio do livro com o mesmo título, do Dr. John Barnett)

terça-feira, 24 de maio de 2011

A IMPORTÂNCIA DO MINISTÉRIO PASTORAL NO PROCESSO DE PRESERVAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DA IGREJA: UMA EXPOSIÇÃO DE ATOS 20.17-35

Introdução
Nos últimos anos, graças ao bom Deus, temos visto surgir várias publicações, em formas de livros, artigos e revistas, enfatizando a importância do ministério pastoral. Tais publicações têm sido motivadas, devido à constatação de que o ministério pastoral segundo a Bíblia tem sofrido deformações em nossos dias. E não devemos nos enganar, quanto ao fato de pensarmos que tais publicações estejam sendo direcionadas apenas aos ministros da Palavra, demonstrando que haja algo errado com eles apenas, pois, tais publicações têm sido direcionadas também, aqueles que chamamos de presbíteros. Isto tem se dado, pelo fato de que se tem redescoberto a importância do ministério pastoral, como tendo que ser desenvolvido não apenas por aqueles que chamamos de pastores, mas tendo que ser desenvolvido na mesma proporção, por aqueles a quem chamamos de presbíteros.
O que se tem percebido é que a responsabilidade para pastorear a Igreja de Cristo, compete ao corpo de presbíteros, sendo eles divididos por duas especialidades, ou seja, a do ensino e a do governo. Em outras palavras a saúde da Igreja de Cristo depende do exercício responsável e consistente de um ministério pastoral exercido em conjunto por pastores e presbíteros.
Em outras palavras, a preservação da igreja e ou a sua revitalização quando necessária, depende do exercício responsável e consistente do ministério pastoral exercido em conjunto pelo corpo de oficiais.
Através da exposição do texto bíblico, registrado em Atos 20.17-35, irei demonstrar, que no processo de preservação e ou revitalização da igreja, o ministério pastoral exercido de forma adequada é indispensável. Através do exemplo do apóstolo Paulo, testemunhado em tal passagem, destacarei alguns aspectos importantes para o exercício do ministério pastoral.


1. A Igreja em perigo: a necessidade de um trabalho pastoral consistente e constante
A plantação da Igreja de Éfeso, se deu durante a terceira viagem missionária do apóstolo Paulo (At 18.23—21.16). Ele permaneceu na Igreja de Éfeso durante três anos (v. 31). Durante este período seu trabalho pastoral na formação dessa igreja foi realizado de forma consistente e constante. Conforme suas palavras: “[...] lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas a cada um” (v. 31). A palavra traduzida por “admoestar”, significa, instruir, advertir, ensinar. Conforme demonstrarei abaixo, seu trabalho foi desenvolvido de diversas formas, procurando cobrir todas situações e oportunidades que tinha, para ensinar tal igreja e prepara-la adequadamente, para um crescimento e desenvolvimento saudável. Paulo ensinou publicamente e de casa em casa (v. 20). Seu trabalho foi duro, e desenvolvido em meio a sofrimento e perseguição (v.19, 31).
Depois de realizar seu ministério na igreja de Éfeso, tendo que partir para Jerusalém (v. 22), convoca os presbíteros de tal igreja, para uma conversa de despedida e instrução. Ele agora faz uma retrospectiva de tudo quanto havia realizado entre eles, e chama a atenção deles, para a necessidade de pastorearem a igreja de Éfeso, e que isto fosse feito com vigilância contínua e permanente. A razão para tal vigilância está no perigo que rondava tal igreja. Paulo diz: “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (v. 29-31).
No texto, Paulo não deixa claro se o alerta que está emitindo, era fruto de uma revelação específica que recebera, ou que tal alerta era fruto da compreensão de que a Igreja de Cristo deve estar sempre alerta, pois, é certo que sempre receberá as investidas de seu inimigo. Pode ter sido uma coisa ou outra, ou as duas. Jesus Cristo demonstrou a seus discípulos, sobre os constantes ataques de Satanás contra sua Igreja, muito embora tenha dito que nada e ninguém poderia impedir sua edificação (Mt 16.18). O Senhor disse que os últimos dias seriam marcados pelo aparecimento de falsos profetas e anticristos, que procurariam desviar a atenção de seus discípulos (Mt 24.4-5, 23-24). Paulo escrevendo a Timóteo – que se tornou por designação do apóstolo pastor da igreja de Éfeso – alertou acerca do surgimento nos últimos dias de falsos ensinos, e diz que tal afirmação vinha do Espírito Santo (1Tm 4.1-5). Talvez aqui, tenhamos a indicação de que as palavras ditas aos presbíteros da igreja de Éfeso, fossem fruto de uma revelação específica. O fato é que, tempos depois, a igreja de Éfeso foi invadida por falsos ensinos, que provavelmente estavam sendo difundidos por pessoas que estavam entre eles e pertenciam a tal igreja. Talvez até alguns deles fossem líderes da igreja. Em suas cartas a Timóteo, isto fica evidenciado (1Tm 1.3, 7, 19-20; 4.1-5; 6.3-5; 2Tm 3.1-9).
Baseado no alerta dado por Paulo à igreja de Éfeso e na base bíblica restante (que fala da Igreja de Cristo como sendo atacada por seu inimigo), pode-se dizer que nos dias atuais, se faz necessário um estado de vigilância constante, por parte da liderança das igrejas locais. Tem-se visto como que na atualidade, vários ensinos e práticas perniciosas têm sido difundidos. Nosso inimigo tem se utilizado de sutilezas para enfraquecer as igrejas, e torna-las vulneráveis a queda. Temos visto como que mais e mais, os crentes desconhecem doutrinas básicas do cristianismo, como resultado de desconhecerem a própria Bíblia. A pregação da Palavra de Deus tem sido colocada em segundo plano, dando-se lugar a ênfase no entretenimento e na satisfação dos crentes durante o culto. Prova do que estamos falando, tem-se visto mudanças importantes na forma e conteúdo dos cultos evangélicos. Uma ênfase nas emoções e em práticas não autorizadas pela Palavra de Deus. Cânticos, músicas têm sido adotados no culto, sem uma análise prévia. O critério para a recepção de tais produções é baseado no gosto e no sentimento que produz no momento do culto, e não, como deveria ser, se tal música ou cântico possui uma doutrina sólida comprovada pela Bíblia. O que está acontecendo é que as lideranças das igrejas, estão como adormecidas, deixando de exercer seu papel de cuidar, para que a Igreja de Cristo não seja contaminada e tragada por seu inimigo.
Diante do que foi exposto até aqui, se faz necessário, que os líderes cristãos, tomem consciência do perigo que ronda a Igreja de Cristo em todos os tempos. Assim, como Paulo alertou os presbíteros da igreja de Éfeso, dizendo que deveriam vigiar de forma constante, se faz necessário emitir tal alerta e convocar as lideranças das igrejas locais a uma vigilância contínua e permanente. Tal vigilância, deve ser fruto de um trabalho pastoral consistente e constante.
De que forma esse trabalho pastoral deve ser desenvolvido e por quem?

2. O trabalho pastoral: forma e desenvolvimento
Podemos dizer, que o apóstolo Paulo foi o primeiro pastor que a igreja de Éfeso teve. Ele não foi apenas o missionário que pregou o Evangelho entre os efésios, necessário à conversão deles, mas, também, foi aquele que os instruiu na fé, fazendo-os discípulos. Paulo esteve em Éfeso durante três anos e muniu aquela Igreja e sua liderança, de todos os ensinamentos indispensáveis a sua existência e preservação.
No processo de plantação da igreja de Éfeso, Paulo procurou desenvolver seu ministério pastoral, de tal forma que tal igreja, pudesse de forma saudável se desenvolver e ser preservada de contaminação.
Do testemunho expresso pelo apóstolo Paulo, podemos extrair alguns princípios importantes para o desenvolvimento de um ministério pastoral bíblico:

2.1. O ministério pastoral é desenvolvido em meio a sofrimentos.
Paulo diz que seu ministério entre os efésios foi marcado por lágrimas e provações (v. 19, 31). As lágrimas foram derramadas por causa dos sofrimentos que lhes foram infringidos por seus perseguidores. Mas, lágrimas foram derramadas por causa dos crentes. Paulo sempre demonstrou grandes preocupações pelos crentes das igrejas por ele iniciadas. Às vezes chorava por perceber que alguns se desviavam de Cristo Jesus (Fp 3.18). Derramou lágrimas ao escrever, por exemplo, suas epístolas aos coríntios (2Co 2.4). Suas lágrimas derramadas em favor dos crentes, serviam como prova de que seu ministério era desenvolvido de forma responsável e fruto de um coração sincero, desejoso de ver o progresso da Igreja de Cristo nos diversos lugares.
O apóstolo Paulo escrevendo suas epístolas a Timóteo, demonstra a seu filho na fé, que o ministério pastoral implica em sofrimento, por causa de Cristo Jesus (2Tm 2.1-13; 3.12).
Paulo também sofreu perseguições e emboscadas dos judeus. Desde a sua conversão, os judeus procuravam de todas as formas prejudica-lo (v. 19). “ [...] as tramas dos judeus contra a sua vida pareciam ocorrer com incrível freqüência, ora em Damasco ora na Ásia Menor, Macedônia, Grécia ou Jerusalém” (At 9.23, 24, 29; 14.5; 20.3; 23.12; 25.3; 2Cor 11.26).
O testemunho do apóstolo Paulo sobre seus sofrimentos, nos indica que o ministério pastoral implicará em algum momento, em sofrimentos e ou até mesmo em perseguições. O pastor deve estar ciente do preço que se paga, ao realizar com fidelidade e sinceridade, sua vocação. Muitos são aqueles que diante das dificuldades do ministério pastoral, abandonam tudo, ou sucumbem diante das dificuldades. Há aqueles, que se entregam a um ministério medíocre, sem autoridade, pelo fato de que, com medo de desagradarem a comunidade, afrouxam seus valores e princípios, para não sofrerem represarias.
Nós pastores, a despeito dos sofrimentos que possamos passar, não podemos nos esquecer que acima de tudo servimos a Cristo, e que, muitas vezes em tal serviço, para agradar o mestre, precisaremos contrariar pessoas, o que poderá redundar em sofrimentos.

2.2. O ministério pastoral ocupa-se da tarefa primordial da instrução bíblica.
Em seu ministério pastoral entre os efésios, Paulo ocupou-se primordialmente da instrução bíblica dos crentes e daqueles que se tornariam líderes em tal igreja. Paulo muniu aquela igreja, seus crentes, de todos os ensinamentos necessários para que pudessem ser preservados do erro. Ao se dirigir aos presbíteros da igreja, Paulo não tem mais nada a acrescentar, a não ser alerta-los e coloca-los em vigilância, pois, o inimigo se voltaria contra a igreja, como um lobo tentando devorar o rebanho.
Paulo diz que não havia deixado de anunciar coisa alguma proveitosa. O apóstolo está seguro que durante o tempo em que esteve entre os efésios, tudo quanto foi necessário ele anunciou, não deixando nada de lado (v.20). Anunciou a todos, tanto gregos como judeus, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus (v. 21). Não deixou de anunciar todo desígnio de Deus, ou seja, “Paulo não suprimiu nenhuma das verdades do evangelho, mas pregou o evangelho completo a judeus e gentios”.
A tarefa primordial do pastor é anunciar todo o desígnio de Deus, anunciar o arrependimento e a fé em Cristo a todos os homens. Sua tarefa é munir a igreja de ensinamentos bíblicos, necessários para enfrentar os desafios da vida cristã.
Erwin W. Lutzer, no prefácio do livro O ministério Pastoral segundo a Bíblia, refletindo sobre as tendências modernas, e o desafio de se manter o ministério centrado na Bíblia diz o seguinte:

"Como pastores, todos nós já participamos de conferências para encontrar a “chave” para um ministério bem-sucedido. Estamos interessados em aprender as últimas novidades sobre o crescimento da igreja, as últimas teorias sobre administração eclesiástica e a melhor maneira de organizar nossos pequenos grupos. Enquanto pode ser argumentado que tudo isso tem o seu lugar, a verdade é que muitos ministros estão sendo afastados da centralidade bíblica, substituindo aquilo que é central pelo que é periférico. O que está faltando é um profundo comprometimento com uma vida santa, um desejo ardente por saúde espiritual e pela salvação da congregação; em resumo, o que está faltando é uma abordagem radicalmente bíblica a toda obra da igreja."

Para que a Igreja de Cristo, existindo por meio de determinada comunidade, possa ser preservada do erro, é preciso que o seu ministro cumpra de forma cabal e fiel o seu ministério de anunciar os desígnios de Deus. Estamos certos de que o exercício de um ministério centrado nas Escrituras, servirá tanto para preservação da igreja, bem como para a sua revitalização, caso a igreja tenha ficado adoecida. Tempos depois, escrevendo suas epístolas a Timóteo, num momento em que, ao que parece, a igreja de Éfeso estava sendo contaminada por falsos ensinos, Paulo é enfático em demonstrar a importância da centralidade do ensino e instrução bíblicos, para a saúde e revitalização da igreja (1Tm 4.6-16; 2Tm 4.1-5).

2.3. O método de Paulo para instruir os crentes
Em seu trabalho pastoral, Paulo se utilizou de todas as possibilidades, para anunciar as verdades de Deus. Seu método não foi único, rígido, inflexível. Em alguns momentos ele se utilizou do método da pregação pública. Por certo ele aproveitou os cultos públicos para anunciar todo desígnio de Deus. Em outras ocasiões, visitou os crentes e de casa em casa deu continuidade às suas instruções. Naquela época, muitas igrejas funcionavam nas casas dos crentes (Rm 16.5; Cl 4.15; Fm 1.2). Em outros momentos freqüentou a sinagoga e a escola de Tirano. Percebe-se que seu método era flexível, conforme a necessidade e oportunidade.
O exemplo de Paulo na forma de realizar seu ministério de ensino, mostra-nos a necessidade de desenvolvermos nosso ministério com criatividade, ou seja, adaptando-o as condições e necessidades do campo, sendo flexível na aplicação de métodos de ensino. Infelizmente, muitas das dificuldades que enfrentamos como ministros do evangelho, tem relação com isso que dissemos. Temos que estar sensíveis as oportunidades. Por exemplo, há igrejas cujos membros devido as suas ocupações semanais e a distância que moram da igreja, não conseguem freqüentar os trabalhos semanais, mas, se sentem em condições de participar de uma reunião familiar perto de sua residência. Neste caso, a criação de grupos de estudos em determinadas regiões, poderia suprir as necessidades do ensino bíblico. Em algumas regiões, a visita pastoral é possível, em outras, os crentes devido a seu trabalho e outros compromissos, não dispõe de tempo para receber o pastor. Neste caso e em outros semelhantes, o pastor deverá adaptar seu método de ensino, buscando o que é mais adequado a realidade dos crentes.

2.4. O alvo do ministério pastoral
No verso 24, Paulo demonstra que em sua vida o que ele buscava como alvo era completar a sua carreira, o ministério que recebeu do Senhor Jesus de anunciar o evangelho da graça de Deus (Gl 1.15-16). Para Paulo sua vida não era um bem precioso que deveria ser mantido a qualquer custo, mas, o mais importante para ele, era completar a carreira, ou seja, o ministério para o qual havia sido chamado (2Tm 4.6). Embora, estivesse de partida para Jerusalém, não sabendo o que poderia lhe acontecer, o mais importante para ele, era completar sua carreira.
Paulo serve-nos de modelo de abnegação. Como pastores precisamos aprender com ele a priorizar nosso ministério e vocação. Poderíamos dizer como ele de que estamos dispostos a morrer pelo evangelho de Cristo, se isto for necessário, para completarmos de forma fiel o ministério para o qual fomos chamados?


3. O ministério pastoral dos oficiais da igreja
Na Igreja Presbiteriana do Brasil faz-se a distinção entre presbíteros docentes e presbíteros regentes. Os presbíteros docentes são aqueles cujo chamado e capacitação, os distinguem dos demais, devido a sua especialização no ensino da Palavra. Os presbíteros docentes, são aqueles que na igreja são chamados de pastores. Os presbíteros regentes são aqueles que se ocupam mais detidamente com a regência, ou seja, o governo e administração da igreja.
Essa distinção possui base bíblica. Paulo escrevendo a Timóteo faz distinção semelhante: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1Tm 5.17). Tais palavras servem para demonstrar que já no tempo de Paulo se fazia a distinção que se faz hoje, chamando alguns devido a sua especialização, de pastores ou ministros e outros de presbíteros.
Embora haja essa distinção entre presbíteros, no entanto, é digno de nota que ambas as especialidades, demandam responsabilidades semelhantes. “Todos governam, e em certo grau todos ensinam, mas alguns (além de governarem) labutam na pregação (expondo a Palavra na congregação reunida) e no ensino (ministrando instrução à juventude, aos que a buscam, e a todos os que têm necessidade dela)”.
Ao apresentar a Timóteo, quais as qualificações deveriam ter os escolhidos para o ofício de presbítero, Paulo não faz distinção alguma, demonstrando que ambos devem ter as mesmas qualificações.
Ao chamar os presbíteros da igreja de Éfeso, para instrução e despedida, Paulo também não faz distinção alguma. Com certeza, considerando que eram mais de um, é provável que existissem naquela igreja, presbíteros com diferentes especialidades, mas Paulo responsabiliza todos do dever de pastorear a igreja, impedindo que lobos a devorassem. Isto serve para demonstrar que a responsabilidade para pastorear a Igreja de Cristo, que foi comprada por seu próprio sangue, pertence na mesma medida aos presbíteros docente e regentes, é claro, responsabilidade esta, delineada pela especialidade de cada um. Desta forma, o que foi apontado acima, acerca do ministério pastoral, se aplica na proporção de cada especialidade, ao presbítero docente e ao presbítero regente.
Infelizmente a falta de entendimento de que o presbítero docente e o presbítero regente, receberam a mesma incumbência do Espírito Santo (v.28), para pastorearem a Igreja de Cristo, tem feito com que, os pastores fiquem com a maior parte da responsabilidade, enquanto que, a grande maioria dos presbíteros (regentes), se sente desincumbida de tal dever. Não é à toa, que nos últimos anos, tem-se promovido a publicação de livros, revistas e cursos, preparando os presbíteros regentes, para a tarefa de pastorear a igreja. Muitos problemas, dentre eles doutrinários, seriam evitados ou corrigidos, se presbíteros regentes estivessem cônscios de sua responsabilidade pastoral. Algumas vezes, a igreja local, antes pastoreada por um ministro centrado na Palavra, se desvia, doutrinariamente falando, pois, com a saída de tal pastor e a chegada de outro, ensinos diferentes e até mesmo heréticos passam a ser ensinados, sem sofrer qualquer interferência dos presbíteros regentes, visto que, tais oficiais não assumem seu posto.
É imprescindível para a preservação da Igreja de Cristo ou para sua revitalização, que todos os presbíteros, sejam quais forem suas especialidades, que se engajem no pastoreio do rebanho.

Conclusão
O apóstolo Paulo prevendo as investidas contra a igreja de Éfeso, por parte de falsos mestres, lembra os presbíteros acerca do ministério que desenvolveu entre eles. Os efésios haviam sido instruídos de diversas formas e haviam sido munidos de todos os ensinamentos necessários, não faltando a eles mais nada. Paulo demonstra, que o que cabia aos presbíteros agora, era assumir a dianteira do rebanho, e exercer o ministério pastoral de tal forma que a saúde da igreja fosse preservada.
Através das palavras e do testemunho proferidos pelo apóstolo Paulo aos presbíteros da Igreja de Éfeso, podemos extrair princípios importantes para nortear o ministério pastoral exercido em favor da Igreja de Cristo. Antes de tudo, precisamos estar conscientes de que a todo instante a Igreja de Cristo está sob o perigo das investidas do inimigo. Não podemos baixar a guarda, ou acharmos que estamos seguros e deixar de vigiar. A vigilância deve ser constante e permanente.
A vigilância é necessária, mas, também é importante e indispensável para a preservação da igreja e ou sua revitalização, que o ministério pastoral seja exercido de forma consistente, seguindo o modelo encontrado no exemplo do apóstolo Paulo, conforme foi demonstrado no tópico 2.
Por fim, é preciso que se entenda que a responsabilidade do cuidado pastoral, repousa sobre todos os presbíteros, sejam quais forem as especialidades ministeriais. Não somente o pastor, que é o presbítero docente, deve pastorear o rebanho, mas também, cabe ao presbítero regente, exercer tal ministério. É claro que, conforme já procuramos demonstrar, cada especialidade, determinará ênfases distintas.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Catástrofes e o Chamado de Deus para o Arrependimento

Lucas 13.1-5


Que leitura você faz de catástrofes, como aquela ocorrida, semanas à trás, em algumas cidades do Rio de Janeiro? Teria Deus alguma participação nesses acontecimentos?
Em tais circunstâncias, várias perguntas são levantadas. Tais acontecimentos têm dado ocasião, para alguns teólogos anunciarem uma nova visão teológica, questionando a soberania e onipotência de Deus, dizendo que Ele não pode fazer nada para impedir e que nem ao menos, poderia permitir tais ocorrências, pois, isto não seria compatível com o caráter bondoso e amoroso de Deus.
Há também aqueles que se arriscam em dizer que calamidades como a do Rio de Janeiro, podem ter ocorrido como uma forma de juízo de Deus sobre aquelas pessoas, punindo-as por algum pecado.
Qualquer conclusão a respeito de catástrofes, deverá ser resultado do entendimento bíblico. Precisamos atentar para o que a Bíblia diz a respeito de acontecimentos como os que temos testemunhado em nosso tempo. A passagem de Lucas 13.1-5, pode trazer luz e esclarecimentos a respeito da questão aqui levantada.
Conforme o texto, Jesus é abordado por alguns que falavam acerca da atrocidade cometida por Pilatos, matando judeus que ofereciam seus sacrifícios durante o culto. Isto era algo abominável. Não é mencionada a razão por estarem relatando o ocorrido. Há aqueles que acham que tais pessoas estavam testando Jesus, querendo obter dele, um posicionamento político frente ao império Romano, representado por Pilatos. De acordo com a resposta de Jesus, ao que parece, tais pessoas estavam estabelecendo alguma relação entre o ocorrido com alguma culpa pecaminosa que porventura tivessem as vítimas. Vejam o verso 2 e 3a. Ao que parece então, as pessoas que se aproximaram de Jesus, consideravam que as vítimas da ira de Pilatos certamente teriam sido muito perversas, do contrário Deus não lhes teria permitido morrer dessa maneira. Esse entendimento era comum entre os judeus e entre os seus discípulos (Veja-se: Jo 9.1-3; Jó 4.7; 8.20; 11.6; 22.6-10).
Jesus contraria esse entendimento, dizendo que a morte de tais galileus, não se deu por serem eles mais pecadores do que outros galileus. Em outras palavras, eles não poderiam julgar que tal calamidade era resultado dos pecados dos galileus mortos.
No verso 4, Jesus menciona um outro fato ocorrido naqueles dias, a morte de dezoito pessoas com o desabamento de uma torre em Siloé. Agora Jesus menciona um acontecimento acidental. Mais uma vez Jesus afirma que, tal não ocorreu, por serem tais pessoas mais culpadas do que os outros habitantes de Jerusalém. Percebam meus irmãos que o que Jesus diz, serve para esclarecer-nos também a respeito das calamidades, ocorridas no mês de janeiro.
Ou seja, não podemos julgar que tais ocorrências seja uma forma exclusiva de Deus punir pessoas por sua rebelião ou pecado.
As pessoas que foram atingidas nas tragédias recentes, não eram mais pecadoras do que as demais. As coisas que lhes aconteceram, não foram demonstração do juízo de Deus sobre elas de forma exclusiva.
Mas Jesus, traz luz sobre um outro princípio, que deve ser considerado quando tentamos entender a razão da ocorrência de tragédias e calamidades. Vejam o que Jesus afirma com respeito aos dois acontecimentos mencionados (Cf. os versos 3 e 5).
Jesus toma as duas tragédias e faz uso delas, para despertar a mente de seus ouvintes quanto a necessidade de arrependimento, caso contrário, os impenitentes igualmente pereceriam em seus pecados.
“Perecer” no contexto bíblico, significa estar sob condenação. Aponta para a condenação eterna que virá sobre os pecadores que não se arrependerem (Vejam o Sl 1.6; Jo 3.16; Mt 10.28; Jo 10.28).
Percebam que as tragédias noticiadas entre os ouvintes de Jesus, tratava-se de um tipo do juízo vindouro de Deus. Em sua soberana vontade, Deus permite, ordena que tais coisas venham sobre a humanidade, como sendo uma maneira dele chamar os pecadores ao arrependimento, de alertar sobre o que fará no último dia. No livro do Apocalipse, também somos informados de que o Senhor envia calamidades a terra, na tentativa de que os homens ouçam a sua voz e se arrependam (Ap 16.9; 8.8, 9, 20, 21).
Podemos dizer então, que as calamidades que temos presenciado sobre a terra, são juízos iniciais de Deus, não especificamente sobre as pessoas diretamente afetadas, mas, de maneira geral sobre a humanidade pecadora e rebelde. Deus está chamando o homem ao arrependimento.
É essa leitura que Jesus nos apresenta sobre as calamidades e tragédias que ocorrem sobre a terra, e é essa leitura que devemos ter de tais fatos. Até que ponto todos nós estamos atentos e apercebidos do que Deus está fazendo? Até que ponto, temos todos nós já provado de um arrependimento genuíno, verdadeiro? Até que ponto, nós estamos com os nossos ouvidos atentos a esta mensagem enviada da parte de Deus?
Que Deus tenha misericórdia de nós e nos faça compreender o que ele está fazendo. Que possamos também, despertar a mente de outras pessoas, para essa mensagem, a fim de que se arrependam de seus pecados e coloquem a sua confiança em Cristo Jesus.