terça-feira, 21 de outubro de 2014

A REFORMA PROTESTANTE – ROMPIMENTO COM O MODELO CATÓLICO ROMANO MEDIEVAL

Neste trabalho parte-se do referencial teórico de que o Protestantismo ocupa um lugar no Cristianismo em oposição ao Catolicismo. O Protestantismo, em seu nascedouro no século XVI, representou um rompimento com o Catolicismo. De forma mais restrita, como argumentou Max Weber, o Calvinismo[1]- sendo um seguimento dentro do Protestantismo – é considerado pelo Catolicismo seu real oponente até os dias de hoje[2]. O Calvinismo expandiu suas fronteiras de tal forma, “a ponto de vir a ser considerado o inimigo número um da Igreja Católica Romana e dos governos absolutistas”[3].
                 Vários autores defendem essa teoria, demonstrando que o Protestantismo representa uma forma religiosa que se opõe ao Catolicismo. Para demonstrar esta oposição, argumentam que o Protestantismo representa uma forma religiosa que se despiu dos elementos característicos do catolicismo, adotando uma visão racional do mundo, enquanto para o Catolicismo a racionalização do mundo era desnecessária[4]. Peter Berger diz o seguinte sobre a diferença entre o Protestantismo e o Catolicismo:
Se observarmos mais cuidadosamente essas duas constelações religiosas, porém, o Protestantismo poderá ser descrito como uma imensa redução do âmbito do sagrado na realidade, comparado com seu adversário católico. O aparato sacramental reduz-se a um mínimo e, mesmo assim, despido de suas qualidades mais numinosas. Desaparece também o milagre da missa. Milagres menos rotineiros, embora não sejam completamente negados, perdem todo o significado real para a vida religiosa. Desaparece também a imensa rede de intercessão que une os católicos neste mundo com os santos e, até mesmo, com todas as almas. O Protestantismo deixou de rezar pelos mortos. Simplificando-se os fatos, pode-se dizer que o Protestantismo despiu-se tanto quanto possível dos três mais antigos e poderosos elementos concomitantes do sagrado: o mistério, o milagre e a magia. Esse processo foi agudamente captado na expressão “desencantamento do mundo”. O crente protestante já não vive em um mundo continuamente penetrado por seres e forças sagradas.[5]

Berger, destacando a diferença entre o Protestantismo e o Catolicismo, continua:
O católico vive em um mundo no qual o sagrado é mediado por uma série de canais – os sacramentos da Igreja, a intercessão dos santos, a erupção recorrente do “sobrenatural” em milagres – uma vasta continuidade de ser entre o que se vê e o que não se vê. O protestantismo aboliu a maior parte dessas mediações. Ele rompeu a continuidade, cortou o cordão umbilical entre o céu e a terra, e assim atirou o homem de volta a si mesmo de uma maneira sem precedentes na história.[1]

Para Berger, o Protestantismo seria uma volta ao “traço da racionalização ética do Antigo Testamento (no sentido de impor racionalidade à vida)”, característica que foi moldando a religião judaica em oposição às religiões dos outros povos da antiguidade com quem tinha contato o povo judeu. Já o Catolicismo estaria num caminho inverso, voltando a práticas religiosas características da religião não-bíblica da antiguidade. O Catolicismo, desta forma, em oposição ao Protestantismo, seria um re-encantamento do mundo.



Nota: Este artigo é parte integrante de minha Dissertação de mestrado em Ciência da Religião. Caso tenha gostado e queira continuar lendo, você pode acessar o conteúdo total deste capítulo e da referida dissertação em 
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=189947



[1] Neste trabalho é importante a distinção que o Calvinismo tem no Protestantismo, visto que é desta vertente protestante que nasce o Presbiterianismo. O Presbiterianismo que chega ao Brasil tem em seus fundamentos teológicos a doutrina calvinista. O termo Calvinismo se refere ao sistema doutrinário fundamentado no pensamento de João Calvino, reformador de Genebra. Conforme MacGrath: “Esse termo novo surgiu na literatura polêmica das igrejas da Reforma na sexta década do século 16. Ao que parece, a expressão ‘Calvinismo’ foi apresentada inicialmente pelo polemista luterano Joachim Wesphal a fim de referir-se às idéias teológicas e, particularmente, sacramentais dos reformadores suíços em geral e, mais especificamente, às de João Calvino. Depois de sua introdução, rapidamente o termo passou a ser de uso geral dentro da Igreja Luterana. Em parte, essa rápida aceitação do novo termo refletiu uma profunda inquietação nos meios luteranos com referência a uma crescente influência da Teologia reformada nas regiões da Alemanha consideradas, até então, luteranas. [...] A introdução do termo ‘Calvinista’ parece, portanto, ter sido uma tentativa de estigmatizar a Teologia reformada, caracterizando-a como uma influência estrangeira na Alemanha. O uso desse termo causou espanto no próprio Calvino, que o considerou, com razão, uma tentativa mal disfarçada de desacreditar a adoção da fé reformada por Frederico III. A essa altura, porém, Calvino tinha apenas mais alguns meses de vida e seus protestos mostraram-se ineficazes. Assim, o termo ‘Calvinismo’ passou a ser usados pelos oponentes da Igreja Reformada para se referirem às idéias teológicas dela mesma” (Alister MACGRATH. Origens Intelectuais da Reforma. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 16).
[2] Max WEBER. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2001, p. 74.
[3] W. Stanford REID. A Propaganda do Calvinismo no Século XVI, In: W. Stanford REID (Ed.). Calvino e sua Influência no Mundo ocidental. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 35.
[4] Peter L. BERGER. O Dossel Sagrado Elementos para uma Teoria Sociológica da Religião. São Paulo: Paulus, 1985, p. 134.
[5] Idem, p. 124.
[6] Ibidem.

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