Neste trabalho parte-se do referencial teórico de que
o Protestantismo ocupa um lugar no Cristianismo em oposição ao Catolicismo. O
Protestantismo, em seu nascedouro no século XVI, representou um rompimento com
o Catolicismo. De forma mais restrita, como argumentou Max Weber, o Calvinismo[1]-
sendo um seguimento dentro do Protestantismo – é considerado pelo Catolicismo
seu real oponente até os dias de hoje[2]. O
Calvinismo expandiu suas fronteiras de tal forma, “a ponto de vir a ser
considerado o inimigo número um da Igreja Católica Romana e dos governos
absolutistas”[3].
Vários autores
defendem essa teoria, demonstrando que o Protestantismo representa uma forma
religiosa que se opõe ao Catolicismo. Para demonstrar esta oposição, argumentam
que o Protestantismo representa uma forma religiosa que se despiu dos elementos
característicos do catolicismo, adotando uma visão racional do mundo, enquanto
para o Catolicismo a racionalização do mundo era desnecessária[4].
Peter Berger diz o seguinte sobre a diferença entre o Protestantismo e o
Catolicismo:
Se observarmos mais
cuidadosamente essas duas constelações religiosas, porém, o Protestantismo
poderá ser descrito como uma imensa redução do âmbito do sagrado na realidade,
comparado com seu adversário católico. O aparato sacramental reduz-se a um
mínimo e, mesmo assim, despido de suas qualidades mais numinosas. Desaparece
também o milagre da missa. Milagres menos rotineiros, embora não sejam
completamente negados, perdem todo o significado real para a vida religiosa.
Desaparece também a imensa rede de intercessão que une os católicos neste mundo
com os santos e, até mesmo, com todas as almas. O Protestantismo deixou de
rezar pelos mortos. Simplificando-se os fatos, pode-se dizer que o
Protestantismo despiu-se tanto quanto possível dos três mais antigos e
poderosos elementos concomitantes do sagrado: o mistério, o milagre e a magia.
Esse processo foi agudamente captado na expressão “desencantamento do mundo”. O
crente protestante já não vive em um mundo continuamente penetrado por seres e
forças sagradas.[5]
Berger,
destacando a diferença entre o Protestantismo e o Catolicismo, continua:
O católico vive em um mundo no qual o sagrado é
mediado por uma série de canais – os sacramentos da Igreja, a intercessão dos
santos, a erupção recorrente do “sobrenatural” em milagres – uma vasta
continuidade de ser entre o que se vê e o que não se vê. O protestantismo
aboliu a maior parte dessas mediações. Ele rompeu a continuidade, cortou o
cordão umbilical entre o céu e a terra, e assim atirou o homem de volta a si
mesmo de uma maneira sem precedentes na história.[1]
Para
Berger, o Protestantismo seria uma volta ao “traço da racionalização ética do
Antigo Testamento (no sentido de impor racionalidade à vida)”, característica
que foi moldando a religião judaica em oposição às religiões dos outros povos
da antiguidade com quem tinha contato o povo judeu. Já o Catolicismo estaria
num caminho inverso, voltando a práticas religiosas características da religião
não-bíblica da antiguidade. O Catolicismo, desta forma, em oposição ao
Protestantismo, seria um re-encantamento do mundo.
Nota: Este artigo é parte integrante de minha Dissertação de mestrado em Ciência da Religião. Caso tenha gostado e queira continuar lendo, você pode acessar o conteúdo total deste capítulo e da referida dissertação em
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=189947
[1]
Neste trabalho é importante a distinção que o Calvinismo tem no Protestantismo,
visto que é desta vertente protestante que nasce o Presbiterianismo. O
Presbiterianismo que chega ao Brasil tem em seus fundamentos teológicos a
doutrina calvinista. O termo Calvinismo se
refere ao sistema doutrinário fundamentado no pensamento de João Calvino,
reformador de Genebra. Conforme MacGrath: “Esse termo novo surgiu na literatura
polêmica das igrejas da Reforma na sexta década do século 16. Ao que parece, a
expressão ‘Calvinismo’ foi apresentada inicialmente pelo polemista luterano
Joachim Wesphal a fim de referir-se às idéias teológicas e, particularmente,
sacramentais dos reformadores suíços em geral e, mais especificamente, às de
João Calvino. Depois de sua introdução, rapidamente o termo passou a ser de uso
geral dentro da Igreja Luterana. Em parte, essa rápida aceitação do novo termo
refletiu uma profunda inquietação nos meios luteranos com referência a uma
crescente influência da Teologia reformada nas regiões da Alemanha
consideradas, até então, luteranas. [...] A introdução do termo ‘Calvinista’
parece, portanto, ter sido uma tentativa de estigmatizar a Teologia reformada,
caracterizando-a como uma influência estrangeira na Alemanha. O uso desse termo
causou espanto no próprio Calvino, que o considerou, com razão, uma tentativa
mal disfarçada de desacreditar a adoção da fé reformada por Frederico III. A
essa altura, porém, Calvino tinha apenas mais alguns meses de vida e seus
protestos mostraram-se ineficazes. Assim, o termo ‘Calvinismo’ passou a ser
usados pelos oponentes da Igreja Reformada para se referirem às idéias
teológicas dela mesma” (Alister MACGRATH. Origens Intelectuais da Reforma. São
Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 16).
[2]
Max WEBER. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo:
Martin Claret, 2001, p. 74.
[3] W. Stanford REID. A
Propaganda do Calvinismo no Século XVI, In: W. Stanford REID (Ed.). Calvino
e sua Influência no Mundo ocidental. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana,
1990, p. 35.
[4] Peter L. BERGER. O Dossel
Sagrado Elementos para uma Teoria Sociológica da Religião. São Paulo:
Paulus, 1985, p. 134.
[5]
Idem, p. 124.
[6]
Ibidem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário