sexta-feira, 31 de maio de 2013

Resenha: CARTER, James E.; TRULL, Joe E. Ética Ministerial: um guia para a formação moral de líderes cristãos. São Paulo: Vida Nova, 2010, 318 pp.

Resenha
Valdemar Alves da Silva Filho

CARTER, James E.; TRULL, Joe E. Ética Ministerial: um guia para a formação moral de líderes cristãos. São Paulo: Vida Nova, 2010, 318 pp.

James E. Carter é Ph. D. pelo Southwestern Baptist Theological Seminary e pastor com mais de trinta anos de ministério. Atuou como diretor do departamento de relações entre ministros e igrejas da convenção Batista da Louisiana, EUA. Joe E. Trull é Th. D. pelo Southwestern Baptist Theological Seminary e já foi professor de ética cristã no New Orleans Baptist Theological Seminary e é atualmente editor do periódico Christian Ethics Today.
O livro Ética Ministerial: um guia para a formação moral de líderes cristãos, foi escrito segundo os autores para todos os que exercem o ministério cristão, sejam homens ou mulheres, ou de qualquer grupo ou tradição cristã (p. 12). Este livro surgiu como fruto da percepção dos autores acerca da situação em que se encontra o nosso tempo e de que o declínio moral tem afetado os líderes cristãos, a ponto de ninguém mais se incomodar ou se espantar quando se ouve falar de um pastor imoral (p. 14). Daí entenderam a necessidade de produzir um curso que ensinasse ética profissional aos pastores. Apontam três razões que comprovam essa necessidade: 1) O pastor cristão desempenha um papel singular entre as demais vocações; 2) Havia pouco material escrito sobre ética ministerial e 3) A maioria dos seminários não ensinava ética ministerial. A essas três razões somaram ainda a tendência perturbadora, de que no século XXI o ensino de ética cristã nos seminários e universidades parecer estar em declínio (p. 18).
Conforme os autores, considerando que a ética diz respeito àquilo que se deve ser e fazer, este livro trata do que os pastores chamados por Cristo devem ser e fazer em sua vida profissional (p. 18). Para tal ética ministerial, apresentam seis pressupostos como fundamento: 1) Quase todos os pastores desejam ser indivíduos íntegros, cuja vida profissional preserva os ideais éticos mais elevados; 2. A formação do caráter moral e da conduta ética é um processo difícil; 3. Todo o pastor precisa de treinamento nas áreas de ética e formação espiritual; 4. a prática da ética é uma arte que pode ser aprendida; 5. Todo ministro cristão precisa tomar a mesma decisão moral ética que outros profissionais liberais: serei um capacitador ou um mero explorador de pessoas e 6. Quando usado de forma apropriada, um código ministerial de ética beneficia tanto os pastores quanto às comunidades que eles servem (p. 21). Evidentemente esses pressupostos podem ser verificados à medida que os capítulos são apresentados.
O capítulo 1 trata sobre A vocação ministerial: Carreira ou profissão. Nesse capítulo os autores apontam para o perigo dos pastores se perderem em meio a grande quantidade de atividades, esquecendo-se do propósito do ministério pastoral, confundindo as ovelhas como clientes. Apontam para o perigo de muitos exercerem o ministério com o fim de buscarem o sucesso pessoal, esquecendo de sua vocação divina. Neste capítulo os autores fazem uma reconstituição do sentido histórico do conceito sobre profissão, demonstrando que no início, a palavra designava àqueles que professavam votos em uma ordem religiosa. Em seguida apresentam o significado do termo profissional atual, apontando a seguinte definição: “Portanto, podemos definir o profissional como um indivíduo bastante instruído, com aptidões e conhecimento bem desenvolvidos, que trabalha de forma autônoma sob a disciplina de uma ética elaborada e aplicada por seus colegas de profissão, que presta um serviço social de caráter essencial e singular, e que toma decisões complexas cujas consequências são potencialmente arriscadas. O profissional é aquele que se preocupa mais com o interesse da comunidade do que consigo mesmo e mais com o serviço que presta do que com os benefícios financeiros”. Os autores demonstram que em certa medida o pastor se enquadra nessa definição. Para eles o ministro cristão é um profissional, comprometido com certos ideais, sendo que os padrões da prática profissional que se aplicam ao ministério cristão abrangem seis deveres éticos: 1. Instrução; 2. competência; 3. Autonomia; 4. Serviço; 5. Dedicação e 6. Ética.
A partir capítulo 2, os autores passam a aplicar os pressupostos até então estabelecidos. O capítulo dois, “As escolhas morais do pastor: Inatas ou adquiridas?”,  trata sobre questões relacionadas à pessoa do pastor. Tratam sobre as decisões que o pastor deve tomar, apontando três métodos básicos para se tomar decisões morais acertadas: caráter, conduta e discernimento moral. O caráter do obreiro é fundamental, ou seja, o ser vem antes do fazer. O desenvolvimento das virtudes certas é essencial para um ministério eficaz, e a capacidade de discernir e aplicar valores sociais também é crucial. Terminam este capítulo dizendo que, “os profetas de Deus, como todos os cristãos, precisam crescer na fé e na moralidade. Aprender a tomar decisões morais acertadas é um processo que dura à vida toda” (p. 74).
No terceiro capítulo, “A vida pessoal do pastor: acidental ou intencional?”, os autores tratam sobre questões relacionadas a autoestima do pastor, saúde, estilo de vida, crescimento espiritual, vida familiar, finanças, questões sexuais. Em suma, demonstram a necessidade do pastor nessas áreas, demonstrar integridade. A integridade não é algo acidental mas intencional. Ela não acontece por acaso, em outras palavras, deve ser cultivada.
No capítulo 4, “Os membros da igreja: amigos ou inimigos?”, os autores tratam sobre a importância do relacionamento do pastor com os membros da igreja. Demonstram como é importante o bom relacionamento entre pastor e os membros.  Tratam sobre a maneira adequada do pastor exercer sua liderança, sobre como deve tratar seus colegas de ministério, sobre transição ministerial, e por fim sobre o sucesso do ministério, que não é outro senão, torna-se semelhante a Cristo Jesus.
O capítulo 5, tem como título: “Os colegas do pastor:cooperação ou competição?”. Os autores tratam sobre questões práticas com as quais os pastores têm que lidar no que se refere ao relacionamento com outros colegas de ministério e líderes. Neste capítulo abordam situações de relacionamento do pastor com o colega antecessor ou sucessor em relação ao ministério de uma igreja. Tratam sobre a maneira como um pastor deve lidar com o colega pastor aposentado. Tratam também sobre o relacionamento do pastor com colegas pastores de outras denominações.
No capítulo 6, “A comunidade do pastor: ameaça ou oportunidade?”, tratam sobre o relacionamento e a conduta do pastor em relação à comunidade na qual sua igreja está inserida. A questão é resumida da seguinte forma: “Para aqueles que foram chamados por Deus, à vida em comunidade provavelmente incluirá serviço comunitário, participação política, responsabilidade legal e promoção da moralidade pública. A ética do pastor será testada em todas essas áreas. O envolvimento com a comunidade não deixa de ser arriscado; alguns diriam até que é uma ameaça para o ministério. O obreiro cristão tem, contudo, a oportunidade singular de ser sal da terra e luz em um mundo cada vez mais envolto em corrupção e trevas” (p. 193).
No capítulo 7, “Uma questão ética importante; abuso sexual no ministério”, os autores embora já tenham tratado sobre a questão sexual em alguns dos capítulos anteriores, dispensam a esse assunto atenção, tratando-o de forma bem mais extensa e detalhada. Apontam para a abrangência, a natureza e o impacto do abuso sexual cometido por ministros. Apontam também, como os ministros podem prevenir-se de comete abuso sexual, apresentando medidas e procedimentos para auxilia-lo. O capitulo também possui uma parte, em que trata sobre a maneira como a igreja ou denominação deve lidar com o ministro que comete abuso sexual.
O último capítulo, “Um código de ética ministerial: auxílio ou empecilho?”, os autores demonstram a importância de se produzir um código de ética ministerial, que sirva para auxiliar os ministros e conduzi-los na prática ministerial saudável. Os autores argumentam que embora para alguns um código de ética ministerial, possa ser desnecessário, ou redundante, dada à qualidade do trabalho que os ministros  desempenham, no entanto, dizem, “não podemos pressupor que, pelo simples fato de proclamarem justiça, retidão e moralidade, os pastores serão pessoas justas, retas e morais” (p. 238). Argumentam que um código de ética ministerial, tem como propósito mais abrangente, a prestação de contas do ministro. Os autores apresentam como deve ser estruturado um código de ética ministerial, bem como sua aplicação e demonstram como escrever um código de ética. No final do livro há um esboço de um código de ética ministerial, e apêndices, com exemplos de códigos de éticas antigos e contemporâneos de algumas denominações cristãs.
A leitura do livro é bastante proveitosa, principalmente por tratar de questões  éticas relacionadas ao ministério, que comumente não vemos ser tratadas. De fato, deve-se reconhecer que há pouco material sobre ética ministerial. Livros escritos ou traduzidos em português, são menos ainda. Deve-se reconhecer também, que de fato nos seminários a ética ministerial, não recebe a atenção que precisa. Questões com as quais me deparei neste livro, não às ouvi no meu tempo de seminarista. Desta forma, entendo que a leitura deste livro é indispensável para todo ministro, mesmo para aquele que não concorde e mesmo ao final da leitura, continue não concordando com um código de ética ministerial. Os assuntos são apresentados de forma bastante prática, mas, não de forma pragmática, pois, há no livro associação entre a piedade e a prática.




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