Resenha
Valdemar Alves da Silva Filho
CARTER,
James E.; TRULL, Joe E. Ética Ministerial: um guia para a formação moral de
líderes cristãos. São Paulo: Vida Nova, 2010, 318 pp.
James
E. Carter é Ph. D. pelo Southwestern Baptist Theological Seminary e pastor com
mais de trinta anos de ministério. Atuou como diretor do departamento de
relações entre ministros e igrejas da convenção Batista da Louisiana, EUA. Joe
E. Trull é Th. D. pelo Southwestern Baptist Theological Seminary e já foi
professor de ética cristã no New Orleans Baptist Theological Seminary e é
atualmente editor do periódico Christian Ethics Today.
O
livro Ética Ministerial: um guia para a formação moral de líderes
cristãos, foi escrito segundo os autores para
todos os que exercem o ministério cristão, sejam homens ou mulheres, ou de
qualquer grupo ou tradição cristã (p. 12). Este livro surgiu como fruto da
percepção dos autores acerca da situação em que se encontra o nosso tempo e de
que o declínio moral tem afetado os líderes cristãos, a ponto de ninguém mais
se incomodar ou se espantar quando se ouve falar de um pastor imoral (p. 14).
Daí entenderam a necessidade de produzir um curso que ensinasse ética
profissional aos pastores. Apontam três razões que comprovam essa necessidade:
1) O pastor cristão desempenha um papel singular entre as demais vocações; 2)
Havia pouco material escrito sobre ética ministerial e 3) A maioria dos
seminários não ensinava ética ministerial. A essas três razões somaram ainda a
tendência perturbadora, de que no século XXI o ensino de ética cristã nos
seminários e universidades parecer estar em declínio (p. 18).
Conforme
os autores, considerando que a ética diz respeito àquilo que se deve ser e
fazer, este livro trata do que os pastores chamados por Cristo devem ser e fazer
em sua vida profissional (p. 18). Para tal ética ministerial, apresentam seis
pressupostos como fundamento: 1) Quase todos os pastores desejam ser indivíduos
íntegros, cuja vida profissional preserva os ideais éticos mais elevados; 2. A
formação do caráter moral e da conduta ética é um processo difícil; 3. Todo o
pastor precisa de treinamento nas áreas de ética e formação espiritual; 4. a
prática da ética é uma arte que pode ser aprendida; 5. Todo ministro cristão
precisa tomar a mesma decisão moral ética que outros profissionais liberais:
serei um capacitador ou um mero explorador de pessoas e 6. Quando usado de
forma apropriada, um código ministerial de ética beneficia tanto os pastores
quanto às comunidades que eles servem (p. 21). Evidentemente esses pressupostos
podem ser verificados à medida que os capítulos são apresentados.
O
capítulo 1 trata sobre A vocação ministerial: Carreira ou profissão. Nesse capítulo os autores apontam para o perigo dos
pastores se perderem em meio a grande quantidade de atividades, esquecendo-se
do propósito do ministério pastoral, confundindo as ovelhas como clientes.
Apontam para o perigo de muitos exercerem o ministério com o fim de buscarem o
sucesso pessoal, esquecendo de sua vocação divina. Neste capítulo os autores
fazem uma reconstituição do sentido histórico do conceito sobre profissão,
demonstrando que no início, a palavra designava àqueles que professavam votos
em uma ordem religiosa. Em seguida apresentam o significado do termo
profissional atual, apontando a seguinte definição: “Portanto, podemos definir
o profissional como um indivíduo bastante instruído, com aptidões e
conhecimento bem desenvolvidos, que trabalha de forma autônoma sob a disciplina
de uma ética elaborada e aplicada por seus colegas de profissão, que presta um
serviço social de caráter essencial e singular, e que toma decisões complexas
cujas consequências são potencialmente arriscadas. O profissional é aquele que
se preocupa mais com o interesse da comunidade do que consigo mesmo e mais com
o serviço que presta do que com os benefícios financeiros”. Os autores
demonstram que em certa medida o pastor se enquadra nessa definição. Para eles
o ministro cristão é um profissional, comprometido com certos ideais, sendo que
os padrões da prática profissional que se aplicam ao ministério cristão
abrangem seis deveres éticos: 1. Instrução; 2. competência; 3. Autonomia; 4.
Serviço; 5. Dedicação e 6. Ética.
A
partir capítulo 2, os autores passam a aplicar os pressupostos até então
estabelecidos. O capítulo dois, “As escolhas morais do pastor: Inatas ou
adquiridas?”, trata sobre questões
relacionadas à pessoa do pastor. Tratam sobre as decisões que o pastor deve
tomar, apontando três métodos básicos para se tomar decisões morais acertadas:
caráter, conduta e discernimento moral. O caráter do obreiro é fundamental, ou
seja, o ser vem antes do fazer. O desenvolvimento das virtudes certas é
essencial para um ministério eficaz, e a capacidade de discernir e aplicar
valores sociais também é crucial. Terminam este capítulo dizendo que, “os
profetas de Deus, como todos os cristãos, precisam crescer na fé e na
moralidade. Aprender a tomar decisões morais acertadas é um processo que dura à
vida toda” (p. 74).
No
terceiro capítulo, “A vida pessoal do pastor: acidental ou intencional?”, os
autores tratam sobre questões relacionadas a autoestima do pastor, saúde,
estilo de vida, crescimento espiritual, vida familiar, finanças, questões
sexuais. Em suma, demonstram a necessidade do pastor nessas áreas, demonstrar
integridade. A integridade não é algo acidental mas intencional. Ela não
acontece por acaso, em outras palavras, deve ser cultivada.
No
capítulo 4, “Os membros da igreja: amigos ou inimigos?”, os autores tratam
sobre a importância do relacionamento do pastor com os membros da igreja.
Demonstram como é importante o bom relacionamento entre pastor e os
membros. Tratam sobre a maneira adequada
do pastor exercer sua liderança, sobre como deve tratar seus colegas de
ministério, sobre transição ministerial, e por fim sobre o sucesso do
ministério, que não é outro senão, torna-se semelhante a Cristo Jesus.
O
capítulo 5, tem como título: “Os colegas do pastor:cooperação ou competição?”.
Os autores tratam sobre questões práticas com as quais os pastores têm que
lidar no que se refere ao relacionamento com outros colegas de ministério e
líderes. Neste capítulo abordam situações de relacionamento do pastor com o
colega antecessor ou sucessor em relação ao ministério de uma igreja. Tratam
sobre a maneira como um pastor deve lidar com o colega pastor aposentado.
Tratam também sobre o relacionamento do pastor com colegas pastores de outras
denominações.
No
capítulo 6, “A comunidade do pastor: ameaça ou oportunidade?”, tratam sobre o
relacionamento e a conduta do pastor em relação à comunidade na qual sua igreja
está inserida. A questão é resumida da seguinte forma: “Para aqueles que foram
chamados por Deus, à vida em comunidade provavelmente incluirá serviço
comunitário, participação política, responsabilidade legal e promoção da moralidade
pública. A ética do pastor será testada em todas essas áreas. O envolvimento
com a comunidade não deixa de ser arriscado; alguns diriam até que é uma ameaça
para o ministério. O obreiro cristão tem, contudo, a oportunidade singular de
ser sal da terra e luz em um mundo cada vez mais envolto em corrupção e trevas”
(p. 193).
No
capítulo 7, “Uma questão ética importante; abuso sexual no ministério”, os
autores embora já tenham tratado sobre a questão sexual em alguns dos capítulos
anteriores, dispensam a esse assunto atenção, tratando-o de forma bem mais
extensa e detalhada. Apontam para a abrangência, a natureza e o impacto do
abuso sexual cometido por ministros. Apontam também, como os ministros podem
prevenir-se de comete abuso sexual, apresentando medidas e procedimentos para
auxilia-lo. O capitulo também possui uma parte, em que trata sobre a maneira
como a igreja ou denominação deve lidar com o ministro que comete abuso sexual.
O
último capítulo, “Um código de ética ministerial: auxílio ou empecilho?”, os
autores demonstram a importância de se produzir um código de ética ministerial,
que sirva para auxiliar os ministros e conduzi-los na prática ministerial
saudável. Os autores argumentam que embora para alguns um código de ética
ministerial, possa ser desnecessário, ou redundante, dada à qualidade do
trabalho que os ministros desempenham,
no entanto, dizem, “não podemos pressupor que, pelo simples fato de proclamarem
justiça, retidão e moralidade, os pastores serão pessoas justas, retas e
morais” (p. 238). Argumentam que um código de ética ministerial, tem como
propósito mais abrangente, a prestação de contas do ministro. Os autores
apresentam como deve ser estruturado um código de ética ministerial, bem como
sua aplicação e demonstram como escrever um código de ética. No final do livro
há um esboço de um código de ética ministerial, e apêndices, com exemplos de
códigos de éticas antigos e contemporâneos de algumas denominações cristãs.
A
leitura do livro é bastante proveitosa, principalmente por tratar de
questões éticas relacionadas ao
ministério, que comumente não vemos ser tratadas. De fato, deve-se reconhecer
que há pouco material sobre ética ministerial. Livros escritos ou traduzidos em
português, são menos ainda. Deve-se reconhecer também, que de fato nos
seminários a ética ministerial, não recebe a atenção que precisa. Questões com
as quais me deparei neste livro, não às ouvi no meu tempo de seminarista. Desta
forma, entendo que a leitura deste livro é indispensável para todo ministro,
mesmo para aquele que não concorde e mesmo ao final da leitura, continue não
concordando com um código de ética ministerial. Os assuntos são apresentados de
forma bastante prática, mas, não de forma pragmática, pois, há no livro
associação entre a piedade e a prática.
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