Resenha
Valdemar Alves da Silva Filho
ARMSTRONG, John (Org.). O
Ministério Pastoral Segundo a Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, 288
pp.
O livro O
Ministério Pastoral Segundo a Bíblia, trata-se de uma coletânea de diversos
artigos, quatorze ao todo, organizados por John Armstrong, escritos por
diversos autores. Há no início da obra, uma lista apresentando as referências
acadêmicas e ministeriais de cada articulista, que ajuda o leitor a ter um
referencial teórico sobre os articulistas. Os autores, são de linha teológica
reformada. Os artigos, cada um em seu tema, procuram apresentar uma perspectiva
reformada sobre o ministério pastoral em cada um de seus aspectos e
particularidades.
Erwin W.
Lutzer, no prefácio, demonstra a importância do livro, apontando a direção
escolhida para o seu tema geral. Conforme Lutzer, está faltando hoje, uma
abordagem radicalmente bíblica a toda a obra da igreja, e diz que o perigo que
corremos é não estar atentos para a secularização das igrejas evangélicas. Já
no prefácio, pode-se ter uma idéia quanto à forma como os artículos serão
apresentados. De forma geral, os artigos apresentam uma crítica à tendência
moderna no meio evangélico atual, de abandono dos fundamentos bíblicos para o
desenvolvimento ministerial. Portanto, este livro, conforme Lutzer, “foi
escrito para nos ajudar a voltar àquelas verdades que fizeram que a igreja se
tornasse, grande”. Enfatiza ainda, a importância do que disse Lutero, quanto à
necessidade da igreja de constante reforma. Este tom em que o livro é escrito é
reforçado pelas palavras de Armstrong na introdução, em que demonstra a
necessidade da escrita de tal obra, dizendo que vivemos numa época em que os
ministros modernos enfrentam grande pressão e que precisam ser equipados. Ele
diz que não existem de forma comum em nosso tempo, livros que articulem e
desafiem os modelos de prática pastoral, e que todo o campo foi tomado como
refém das modernas disciplinas acadêmicas de Ciência e Psicologia. Armstrong ao
desenvolver seu trabalho de pregação itinerante por seu país, teve contato com
centenas de ministros em grupos pequenos e restritos, verificou seus conflitos
e percebeu a necessidade de produzir tal livro. Portanto, como ele diz, “esta é
uma obra que procura entender a época na qual vivemos, os desafios que os
modernos ministros realmente enfrentam e a necessidade da congregação e da
liderança não-ordenada de entender melhor o que a vida e a obra pastoral
realmente são”. Por isso, conforme diz, os autores escolhidos são todos
ministros de diversas partes e de várias igrejas, grandes e pequenas. Sendo
assim, a proposta do livro é apresentar um conteúdo de teologia prática.
O primeiro
artigo escrito também por Armstrong, trata sobre o lema da reforma “semper
reformanda”, ou seja “sempre reformando”. Tal frase, segundo o aturo
trata-se do conteúdo do que é abordado em todo o livro. De forma geral neste
artigo o autor demonstra a necessidade do ministério pastoral ser fundamentado
e reformado pela Palavra de Deus somente.
O segundo
artigo é de autoria de Mark Coppenger, com o título “Livrando-se da
profissionalização: Redescobrindo o ministério pastoral”. Neste artigo o autor
irá confrontar a tendência atual de se considerar o ministério pastoral, como
uma profissão igual às outras, possuindo até mesmo seu código profissional. Ele
aponta então para o perigo da profissionalização do ministério pastoral,
conforme os critérios profissionais modernos. Diz que o ministro ao assumir seu
papel profético, deve resistir à domesticação do ministério. Para ele a existência
de códigos profissional, pode fazer com
que o ministro em nome da cordialidade fica amordaçado. Desta forma, o
ministério em muitos aspectos difere de outras profissões. Portanto, o
ministério pastoral deve ser orientado pelas instruções bíblicas e não por
aquilo que “profissionalmente” é mais aceitável.
O terceiro
artigo, “A urgente necessidade de uma vida piedosa: o fundamento do ministério
pastoral”, escrito por Joel R. Beeke, aborda a necessidade do ministro cultiva
uma vida piedosa. Logo no início ele diz que um dos perigos enfrentados pelo
ministro, é que ele lida com o sagrado com tanta freqüência que acaba por
banaliza-lo. Desta forma, o autor apresenta várias orientações para buscar e
cultivar uma vida piedosa, tais como: busca da bondade, familiaridade com Deus,
e o uso de disciplinas espirituais tais como: leitura da Bíblia, oração, ler e
ouvir sermões, celebração dos sacramentos, comunhão regular com os crentes e
etc.
No quarto
artigo, “Restaurando a exposição Bíblica ao seu devido lugar: o ethos e o
pathos ministerial”, R. Kent Hughes, inicia falando sobre os pressupostos para
a exposição bíblica, considerando o significado das expressões ethos e pathos.
A primeira segundo o autor, tem haver com o caráter do pregador, com a
condição de sua vida interior e com a obra do Espírito Santo dentro dele,
especialmente quando isso se relaciona com o texto sobre o qual está pregando.
Ele outras palavras, a exposição bíblica deve ser aplicada antes de tudo à vida
do pregador. A segunda expressão, significa a paixão na maneira como se prega a
Palavra. Segundo ele, a pregação da Escritura exige paixão que flui da
convicção de que aquilo que você está pregando é a verdade. Desta forma, esses
dois aspectos devem estar presentes na exposição bíblicos, para que a verdadeira obra de reforma bíblica,
ocorra na igreja.
O quinto
artigo, tem como tema, “Mantendo o principal como principal: pregando Cristo
como o foco de toda a reforma”. O autor, Thomas N Smith, demonstra a
necessidade de Cristo ser o centro da pregação. Ele demonstra que a pregação de
Cristo é coração de toda a experiência cristã autêntica e o clímax da história
de Israel. Cristo é a história, portanto, ele deve ocupar uma posição
principal.
No sexto
artigo, “De fé em fé: o que faz com que a pregação seja tão vital para a
reforma?”, Wilbur C. Ellsworth, demonstra a importância da pregação,
considerando que nos dias atuais muitos não têm dado importância a ela. Para o
autor a pregação é fundamental para a fé.
O autor demonstra que ela continua sendo a forma providenciada pelo
Espírito para que a fé seja passada de geração em geração até que Cristo tenha
edificado sua igreja e toda a criação cante a glória da presença de Deus que
enche a terra.
O sétimo
artigo, “Conduzindo a igreja ao culto teocêntrico: o papel pastoral”, Jerry
Marcellino, aborda a importância do culto ser centralizado na Palavra e em Deus
para obter credibilidade espiritual. Depois de demonstrar a relevância de um
culto teocêntrico, apresenta ao final algumas orientações como: objetive um
padrão mais elevado, objetive um princípio regulador, objetive um conteúdo
lírico melhor, objetive estilos musicais mais centralizados em Deus e objetive
cultos mais centralizados em Deus.
O oitavo
artigo, “A cura de almas: o pastor servindo ao rebanho”, Jim Elliff, trata
basicamente sobre o cuidado pastoral do rebanho. Ele no início demonstra que
tal cuidado deve ser fruto do amor do pastor por seu rebanho, e que na
atualidade o cuidado pastoral nas igrejas ortodoxas está em estado deplorável.
Desta forma, propõe um retorno a tal prática, apresentando diversos elementos
aos quais o pastor deve considerar em seu trabalho, tais como: intimidade com o
rebanho, tutoria das pessoas, orientação, consolação, proteção, intercessão.
Para ele todas as facetas do ministério pastoral direcionadas ao indivíduo, têm
como objetivo conduzi-lo a Deus, maduro em Cristo.
No nono
artigo, “Reformando a igreja por meio da oração: a contribuição pastoral”, o
autor, Arturo Azurdia, demonstra a importância e necessidade da oração para a
reforma da igreja. Para ele, há muitas vezes um jugo desigual da confissão
teológica agostiniana com a prática ministerial pelagiana, e isto mostra a
necessidade urgente de reforma do ministério pastoral. Ou seja, a volta a
prática de um ministério que não só reconheça a soberania de Deus pela
afirmação, mas que expresse tal convicção por meio de uma prática de vida
condizente com isso. Sendo assim, demonstra que a oração é indispensável para o progresso espiritual.
O décimo
artigo, escrito por David W. Hegg, “Tudo em comum: o papel pastoral na
edificação de uma comunhão verdadeira”. Como o próprio título demonstra, o
autor demonstra a necessidade de se desenvolver na igreja, uma comunhão
autêntica. O autor aponta para alguns obstáculos a existência dessa comunhão,
tais como as tendências da atualidade, como consumismo, a independência
(auto-suficiência), e a rede de contato. Para combater a deformidade da
comunhão, o autor propõe diversas medidas que o pastor deve assumir, na tarefa
de reformar a comunhão, tais como: aconselhamento bíblico, pregação da palavra,
ministração apropriada da Santa Ceia e etc.
No décimo
primeiro artigo, “O ministério pastoral e o lugar dos sacramento”, T. M. Moore,
demonstra que os sacramentos em muitos lugares têm sido colocado em segundo
plano na igreja. considerando que os sacramentos têm o objetivo de dar
estabilidade e força para a igreja, equipando-a para a vida do reino e para a
missão em todas as épocas e contexto, o pastor deve dar a devida importância aos
sacramentos. Moore diz que a importância
dos sacramentos para a igreja, provém de dois fatos bíblicos: o mandamento de
Cristo e a prática dos apóstolos. Moore apresenta a importância dos sacramentos
para o ministério da igreja e a maneira de se redescobrir o poder ministerial
dos sacramentos.
O décimo
segundo artigo, “Como responder ao pecado na igreja?: Um apelo à restauração da
terceira marca da igreja”, Joseph Flatt, Jr., fala sobre a aplicação da
disciplina na igreja. Inicialmente ele apresenta alguns pressupostos básicos
para a aplicação da disciplina tais como: Deus espera santidade de seu povo; a
igreja que não é santa é uma contradição; Cristo comissionou a igreja para
confrontar nosso pecado; Deus pressupõe quer seu povo será parte de uma igreja local
e os cristãos são parte de uma família. Em seguida ele apresenta a mecânica da
disciplina eclesiástica começando a falar sobre a aplicação de Mateus 18.15-17
e apresenta alguns procedimentos que se deve adotar na aplicação da disciplina.
Finaliza com algumas orientações para conduzir a igreja à prática da
disciplina. Para o autor, a renovação genuína da igreja está ligada, de alguma
forma, à sua prontidão em confrontar o pecado.
No décimo
terceiro artigo, “O sucesso pastoral no ministério evangelístico: o horizonte
restituído”, Mark E. Dever, fala sobre a difícil área do ministério pastoral
que é de encontrar sucesso no evangelismo. O autor irá se voltar para as
instruções bíblicas, conforme as palavras do apóstolo Paulo a Timóteo e aplicar
tais instruções à vida pastoral e demonstra que o sucesso está relacionado à
fidelidade na pregação do evangelho de Cristo.
O último
artigo, “O pastor e o crescimento da igreja: como lidar com o moderno problema
do pragmatismo”, Phil A Newton, como diz propriamente o título do artigo,
demonstra os perigos do pragmatismo na igreja, principalmente àquele
relacionado ao movimento de crescimento de igrejas. O autor demonstra que o
movimento de crescimento de igrejas trata-se de um assunto que deve ser
rejeitado pelos evangélicos, pois, seus fundamentos e princípios não são
bíblicos, mas frutos, de princípios pragmáticos voltados para satisfazer
anseios humanos. O autor não só faz crítica ao movimento de crescimento de
igreja, como apresenta a maneira e os meios adequados dados por Deus para o
crescimento da igreja.
A leitura
deste livro é importante, pois, os artigos apontam de forma geral para as
dificuldades e perigos enfrentados pelos ministros do evangelho na atualidade e
ao mesmo tempo aponta para a forma correta de se desenvolver o ministério, sem
perder de vista o princípio da reforma, de que a igreja sempre precisa ser
reformada. Na atualidade percebemos como que muitos ministérios têm se
acomodado e se amoldado as modernas tendências, sem uma visão crítica do que está
ocorrendo. Este livro nos propõe uma análise do que tem ocorrido, procurando
apontar o caminho para a reforma da igreja.
Algo que senti
falta em tal obra, e considerei um problema, foi a inexistência de uma
conclusão, fazendo um fechamento do livro. Embora, os artigos tenham sido
escritos por diversos autores, no entanto, considerando que havia uma conexão
entre eles de propósito, o organizador poderia ter apresentado uma conclusão, o
que sem dúvida ajudaria o leitor.
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